Monogamia, engano e apetite. A história de Isaque e Rebeca – relatada dos capítulos 24 ao 27 de Gênesis – é caracterizada, em minha opinião, por aspectos ligados a essas três palavras. Se Abraão, em meio ao paganismo dos povos de sua época, havia se destacado por amar e obedecer ao Deus verdadeiro, Yahweh, praticando o monoteísmo (Gênesis 12:1-3), Isaque se faz notório por ter apenas uma mulher. Diferentemente de seu pai, Abraão, e de seus dois filhos, Jacó e Esaú, Isaque “amou” a Rebeca (Gênesis 24:67) e se entregou totalmente a ela, e só a ela. O filho da promessa amava a Deus e seguia Seus conselhos. Quando criou a raça humana, o Senhor deu apenas uma companheira para Adão (Gênesis 2:18-25). O exemplo de Isaque segue tendo valor, visto que as nefastas conseqüências da promiscuidade e da poligamia destróem e matam milhares todos os dias.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, existem cerca de 24,7 milhões de infectados por HIV, somente na África Subsaariana. Contudo, assim como você e eu, Isaque não era perfeito. Ele repetiu alguns dos erros de seu pai: ambos disseram que suas respectivas esposas eram suas irmãs, por temerem a morte, tamanha era a beleza delas (compare Gênesis 20:2 com Gênesis 26:7). Pai e filho ainda encontraram desculpas semelhantes para suas mentiras (Gênesis 20:11 e 26:9).Outros enganos fizeram parte da vida dessa familia, da qual descende Jesus (Mateus 1:1-2). “Inspirado” por Rebeca, Jacó engana o pai, fazendo-se passar por Esaú (Gênesis 27:5-29). Embora recebesse a bênção material (e futuramente a espiritual, relatada em Gênesis 28:1-4), foi igualmente enganado por seu sogro (Gênesis 29:21-30) e, futuramente, por seus filhos (Gênesis 37:27-35).Cabe lembrar, não como forma de justificar o ato de Jacó e Rebeca, mas para conhecimento da situação, que Esaú havia desprezado a primogenitura, ao vendê-la por um prato de lentilhas (Gênesis 25:32). Além disso, Deus profetizara que Esaú serviria a Jacó (Gênesis 25:23). É importante que compreendamos que Esaú não estava predestinado a ser um “profano” (Hebreus 12:16). O que está escrito na Palabra é o que vai acontecer, mas não acontece só pelo fato de estar escrito. Deus conhece o futuro e o revela aos Seus servos.”Devido à sua indiferença para com as bênçãos e preceitos divinos, Esaú é nas Escrituras chamado ‘profano’. Hb 12:16. … Representa aqueles que têm em pouco valor a redenção a eles comprada por Cristo, e estão prontos para sacrificar sua herança no Céu por amor às coisas perecíveis da Terra. Multidões vivem para o presente, sem qualquer pensamento ou cuidado pelo futuro.

Como Esaú, clamam: ‘Comamos e bebamos que amanhã morreremos.’ 1Co 15:32″ (Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, p. 181 e 182).Ainda falando de lentilhas, a história de Isaque e Rebeca nos ensina muito sobre a importância de controlarmos o apetite. Advertidos por Deus de que Esaú serviria a Jacó (Gênesis 25:23) e diante de todas as aberrações cometidas por Esaú (Gênesis 27:46 e 28:7-9), Isaque e Rebeca quiseram fazer as coisas como lhes parecia melhor. Guiado por seu apetite (“Isaque amava a Esaú, porque se saboreava de sua caça” [Gênesis 25:28]), Isaque insistiu em dar as bênçãos da primogenitura a Esaú, pedindo-lhe que lhe preparasse uma deliciosa caça (Gênesis 27:3-4) antes que lhe abençoasse. Esaú obedeceu, sabendo que a tal bênção já havia sido trocada por outra comida deliciosa. O apetite dominava a ambos. E, justamente na questão do apetite foi que Jacó ganhou seu pai, “roubando” a bênção que lhe pertencia, mas que não deveria ser obtida dessa forma. Para infelicidade de Rebeca, que “amava a Jacó” (Gênesis 25:28), a mentira a qual induziu o filho cometer – “usurpar” a primogenitura – lhe custou caro, pois ela nunca mais o viu.A história da humanidade também foi manchada pelo engano de Satanás e pelo apetite de nossos pais: “Adão caiu pela condescendência com o apetite; Cristo venceu pela negação do apetite. E nossa única esperança de reaver o Éden está no firme domínio próprio. Se o poder da condescendência com o apetite era tão forte sobre os homens que, para lhe quebrar as garras, o divino Filho de Deus, em favor do homem, teve de suportar um jejum de quase seis semanas, que tarefa se depara ao cristão! Entretanto, por grande que seja a luta, ele pode vencer. Pelo auxílio daquele poder divino que resistiu às mais ferozes tentações que Satanás podia inventar, ele, também, pode ter inteiro êxito em sua guerra contra o mal, e poderá no final ter na fronte a coroa do vencedor, no reino de Deus” (Ellen G. White, Conselho Sobre o Regime Alimentar, p. 167).

“Jacó suplantou o irmão com um guisado de lentilhas vermelhas. Cristo oferece algo infinitamente mais vermelho e mais valioso que um guisado de lentilhas: Seu próprio sangue, com o qual suplantou Satanás como príncipe deste mundo. Por que Cristo deve suplantar nossa velha natureza com uma nova a fim de nos fazer co-herdeiros juntamente com Ele?” (Lição da Escola Sabatina, 3 trimestre de 2007, p. 36).E o engano ainda traz muita dor ao nosso mundo. Nesta semana, mais precisamente às 18h51 do dia 17 de julho, quase 200 pessoas morreram em São Paulo, no mais terrível de todos os acidentes aéreos do Brasil. Os passageiros do vôo 3054 da TAM acreditavam que aterrissariam seguros no aeroporto de Congonhas. Confiavam nisso. Entretanto, foram enganados. Triste saber que a pista do aeroporto mais movimentado do Brasil não chega a dois quilômetros e que “escorrega como um sabão em dias de chuva”, segundo um piloto da TAM. E ainda que o Airbus-A320 tinha um defeito no reverso da turbina direita, desde o último dia 13. Em breve, Cristo voltará para nos levar ao verdadeiro porto seguro, onde não haverá mais engano, apetites adulterados, nem choro, nem acidentes aéreos.“E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram” (Apocalipse 21:4).

Feliz Sábado com Jesus, nosso Porto Seguro!(Márcio Basso Gomes, jornalista do Sistema Adventista de Comunicação)