Poligamia, apetite entorpecido e esterilidade. Para os padrões humanos, a história de Samuel tinha tudo para dar errado, ou melhor, não era nem para ela existir, pois sua mãe Ana era estéril. Contudo, os padrões de Deus são outros. Ilimitado é o Seu poder, e maior que tudo o Seu amor (João 3:16).
O relato de 1 Samuel inicia com uma breve descrição de Elcana, pai de Samuel. Já no segundo versículo, a Palavra de Deus informa: “E este [Elcana] tinha duas mulheres: o nome duma era Ana, e o nome da outra Penina.” A poligamia fica evidente e o motivo da discórdia também: “Penina tinha filhos, porém Ana não tinha filhos.”
Ana sofria muito com esse “aceitável” costume da época. “E sua competidora [Penina] excessivamente a irritava para a embravecer: porquanto o Senhor lhe tinha cerrado a madre” (1 Samuel 1:6). A primeira lição que podemos absorver dessa história é que o fato de um costume ser aceito pela sociedade não significa ser algo bom, tampouco aprovado por Deus. Reflitamos nos costumes que a “pós-modernidade” nos quer empurrar “goela abaixo”.
De acordo com Ellen White, Ana era a primeira esposa de Elcana. Quando ela não teve filhos, ele tomou outra esposa. “Mas este passo, motivado pela falta de fé em Deus, não trouxe felicidade. Filhos e filhas foram acrescentados à casa; mas a alegria e beleza da sagrada instituição de Deus foram mareadas, e interrompera-se a paz da família. Penina, a nova esposa, era ciumenta e dotada de espírito estreito, e conduzia-se com orgulho e insolência. Para Ana, parecia a esperança estar destruída, e ser a vida um fardo pesado” (Patriarcas e Profetas, p. 569).
O segundo aspecto interessante da história dos pais de Samuel é que eles cumpriram de forma cabal um voto feito ao Deus verdadeiro. Ana prometeu: “Senhor dos Exércitos, se benignamente atentares para a aflição da Tua serva, e de mim Te lembrares, e da Tua serva Te não esqueceres, e lhe deres um filho varão, ao Senhor o darei por todos os dias da sua vida, e sobre a sua cabeça não passará navalha” (1 Samuel 1:10 e 11).
Antes de prosseguir, vale ressaltar que, assim como Sansão (ver Juízes 1:7), Samuel também não deveria cortar o cabelo. Ambos eram nazireus, homens cheios do Espírito Santo. Somente a decisão e as atitudes de cada um foram diferentes.
Ana cumpriu seu voto: “Por este menino orava eu; e o Senhor atendeu à minha petição, que eu Lhe tinha feito. Por isso também ao Senhor eu o entreguei, por todos os dias que viver, pois ao Senhor foi pedido. E adorou ali ao Senhor” (1 Samuel 1:26-28).
Não foi fácil para Ana cumprir o que prometera. O ambiente em que vivia Eli, o sacerdote da época, era corrupto, pois seus filhos “não conheciam ao Senhor” (1 Samuel 2:12). “Eram, porém, os filhos de Eli filhos de Belial e não se importavam com o Senhor; pois o costume daqueles sacerdotes com o povo era que, oferecendo alguém sacrifício, vinha o moço do sacerdote, estando-se cozendo a carne, com um garfo de três dentes na mão; e metia-o na caldeira, ou na panela, ou no tacho, ou na marmita, e tudo quanto o garfo tirava o sacerdote tomava para si; assim se fazia a todo o Israel que ia ali, a Siló. Também, antes de se queimar a gordura, vinha o moço do sacerdote e dizia ao homem que sacrificava: Dá essa carne para assar ao sacerdote; porque não aceitará de ti carne cozida, senão crua. Se o ofertante lhe respondia: Queime-se primeiro a gordura, e, depois, tomarás quanto quiseres, então, ele lhe dizia: Não, porém hás de ma dar agora; se não, tomá-la-ei à força. Era, pois, mui grande o pecado destes moços perante o Senhor, porquanto eles desprezavam a oferta do Senhor” (1 Samuel 2:12-17).
Os filhos de Eli tinham o apetite entorpecido. Roubavam carne crua daqueles que iam oferecer ao Senhor. Cometiam também práticas sexuais ilícitas. Que ambiente para crescer uma criança pura e ensinada nos caminhos de Deus. Que dura prova para Ana e Elcana. Mas eles cumpriram o voto e Deus fez de Samuel um dos profetas mais importantes da história bíblica.
Ana orava e trabalhava. “Desde o primeiro despontar da inteligência do filho ela lhe ensinara a amar e reverenciar a Deus, e a considerar-se como sendo do Senhor. Por meio de todas as coisas conhecidas que o cercavam, procurou ela elevar seus pensamentos ao Criador. Depois de separada de seu filho, a solicitude da fiel mãe não cessou. Cada dia ele era objeto de suas orações. Cada ano ela lhe fazia, com as próprias mãos, uma túnica para o serviço; e, subindo com o esposo para adorar em Siló, dava ao menino esta lembrança de seu amor. Cada fibra da pequena veste era tecida com uma oração para que ele fosse puro, nobre e verdadeiro. Não pedia para o filho grandezas mundanas, mas rogava fervorosamente que ele pudesse alcançar aquela grandeza que o Céu dá valor – que honrasse a Deus e abençoasse a seus semelhantes” (Ellen White, Patriarcas e Profetas, p. 572).
Quanto ao tema do apetite pervertido e da intemperança, ontem foi divulgada na BBC a seguinte matéria: “Organização Mundial da Saúde alerta para aumento do risco de epidemias globais.” Sugiro ler toda a notícia, reproduzida neste blog. Entre outras advertências, a OMS afirma que as “doenças infecciosas estão se propagando mais depressa do que nunca”.
Você pode perguntar o que a história de Samuel e dos intemperantes filhos de Eli tem a ver com isso. O elo é que as doenças e epidemias estão aumentando pela falta de um estilo de vida saudável. Esse era o modo de vida ao qual estaria exposto Samuel, mas a mãe dele não titubeou e cumpriu o voto que fizera.
Para concluir o tema da intemperança, cabe ressaltar que a BBC, em sua reportagem, “só” esqueceu de responder (ou melhor, buscar um especialista que respondesse) o que é mais importante em uma matéria jornalística: o porquê. Epidemias não acontecem à toa. A falta de ar puro, água pura, luz solar, uma dieta vegetariana balanceada, exercício, descanso, uma vida regrada e confiança em Deus provocam não apenas epidemias, mas a destruição de nossa raça.
As práticas sexuais ilícitas, o apetite desenfreado, o grande consumo de alimentos industrializados e de carnes enfermas – que hoje têm grande quantidade de hormônio feminino – e a falta de higiene também são fatores causadores de epidemias.
Se a Organização Mundial da Saúde se preocupasse mais com as causas do que com os efeitos, as epidemias e as enfermidades que açoitam o mundo poderiam, quem sabe, ser controladas.
A história de Elcana e Ana continha ingredientes bem amargos: esterilidade, rivalidade no lar e poligamia. A diferença foi que Ana confiou nAquele que é fiel e justo. Depositou suas esperanças no “Desejado de Todas as Nações”, Cristo Jesus.
O resultado é conhecido. Ana cantou, exultou, regozijou. Tomemos seu exemplo e façamos dele o nosso. Exclamemos como essa fiel serva do Senhor: “O meu coração exulta ao Senhor, o meu poder está exaltado no Senhor; a minha boca se dilatou sobre os meus inimigos, porquanto me alegro na Tua salvação. Não há santo como o Senhor; porque não há outro fora de Ti; e rocha nenhuma há como o nosso Deus” (1 Samuel 2:1-2).
Feliz sábado para você!
(Márcio Basso Gomes, jornalista do Sistema Adventista de Comunicação)