A Câmara Municipal de Campinas sediou na quarta-feira, dia 22 de agosto, o Fórum Quebrando o Silêncio. A iniciativa do vereador Dário Saadi foi realizada em parceria com a Igreja Adventista do Sétimo Dia. A campanha de conscientização contra o abuso e a violência é desenvolvida de forma integrada pela Igreja Adventista na América do Sul, desde o ano 2000. A data do evento também marca o primeiro aniversário da Lei Maria da Penha, que trata com maior rigor os casos de abuso e violência contra mulheres e crianças.
O programa teve a participação de especialistas, juntamente com apresentações musicais. Apresentaram-se o grupo Teen & Cia. e o Coral do Colégio Adventista de Campinas, ambos sob a regência de Marlene Novaes. Um minimusical de conscientização sobre a violência contra a criança, realizado pela Turma do Nosso Amiguinho.
Após a abertura e as saudações dos componentes da mesa, a primeira palestra foi apresentada pelo pastor Elias Pereira, que também é psicólogo. De acordo com ele, o que é mais hediondo no abuso é o fato de ser muitas vezes “perpetrado por aqueles a quem as crianças escolheram para amar”. Ao final da palestra, destacou que é necessário modificar crenças usadas para encobrir o abuso, desenvolver um senso saudável de auto-estima , além de formar um ambiente encorajador para quebrar o silêncio.
A psicóloga Tércia Barbalho, coordenadora do curso de Psicologia do Centro Universitário Adventista (Unasp), campus São Paulo, afirmou que o abuso é um problema com dois aspectos a considerar. Principalmente diante de casos de violência física e sexual, “surge o desejo de fazer justiça pelas próprias mãos, mas nesse caso estaríamos nos igualando ao agressor”, ela considerou. Para a psicóloga, há necessidade de que o agressor seja denunciado, contido e punido. Porém, é preciso que o amparo legal, médico, psicológico e espiritual prestado à vítima se estenda ao agressor. “Normalmente, ele também foi uma vítima e repete um modelo de comportamento já interiorizado. Assim, se não for tratado, fará novas vítimas”, destacou.
A diretora da Coordenadoria da Mulher de Campinas, Berenice Rosa Francisco, falou da luta pública para aprimorar o atendimento às mulheres e crianças agredidas. Segundo os dados de 2004, 329 pessoas foram atendidas em Campinas, naquele ano, vítimas de abuso. Desse total, 70% havia sofrido estupro. E a maior parte dos casos aconteceu em casa. De acordo com ela, as mulheres têm um papel fundamental no lar e jamais devem admitir estabelecer o pacto do silêncio. Na seqüência, o diretor do Conselho da Criança e do Adolescente de Campinas, Jairo Pereira Leite, afirmou que os registros de violência doméstica apresentam um aumento nos últimos anos. Em sua avaliação, as pessoas estão começando a despertar para o problema e passaram a denunciar mais.
O vereador Dario Saadi revelou de público o apreço à campanha desenvolvida pela igreja. “O tema da campanha é de importância fundamental para a sociedade e a Câmara se sente honrada em sediar este evento”, declarou. O pastor Oliveiros Ferreira, presidente da Igreja Adventista na região central do estado de São Paulo, declarou que o combate ao abuso é um desafio e quebrar o silêncio costuma ser difícil, na prática. “Mas temos uma responsabilidade diante de Deus e não podemos nos silenciar”, afirmou.
Campanhas de conscientização e manifestações públicas em diversas cidades na região do estado de São Paulo estão sendo realizadas sob a coordenação da professora Elange Ferreira, líder dos Ministérios da Mulher e da Criança e Adolescente. “Devemos nos unir em favor de mulheres e crianças que sofrem e criar formas de relacionamento mais justas”, declarou.
Também esteve presente ao evento a professora Rosângela Mascarenhas, coordenadora geral dos Ministérios da Mulher e da Criança e Adolescente para a Igreja Adventista em todo o estado de São Paulo. Ela se sente motivada pelo fato de a igreja ter abraçado a iniciativa, quebrando preconceitos. “Essa é uma oportunidade de introspecção, de reavaliarmos nossa realidade e tomar consciência de que o abuso é um problema do qual ninguém está isento”, ela destacou. Em sua opinião, a Igreja dá um passo importante ao se posicionar e divulgar o tema. “Quando você se expressa, toma uma atitude”, define. Ainda afirma que o próximo passo da campanha deve ser a formação de pessoas competentes junto às igrejas para lidar com os casos de abuso. “Hoje, estando melhor preparados para identificar o problema, devemos encaminhá-lo às autoridades que têm a competência para acompanhá-lo”, orienta.
Mais de 200 pessoas participaram da cerimônia. Anelise Teixeira, psicóloga no Hospital Samaritano, esteve presente ao fórum e considerou as palestras de grande relevância para apontar soluções. “O problema é complexo, mas discussões como está ajudam a mostrar caminhos para uma solução”, avaliou. – APAC
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