A revista Veja desta semana trata de uma polêmica levantada pela novela Duas Caras a respeito dos evangélicos. Segundo a matéria, “a evangélica Edivânia (Susana Ribeiro) deu um show de intolerância na novela Duas Caras. Seus alvos eram o gay Bernardinho (Thiago Mendonça), a ex-drogada Dália (Leona Cavalli) e o garçom Heraldo (Alexandre Slavieiro) – que vivem um triângulo amoroso na favela da Portelinha. Ao saber que os três haviam comprado um colchão king-size, Edivânia dirigiu-se à casa deles acompanhada de uma multidão. Com a Bíblia em punho, vociferou: ‘Pelas trombetas de Jericó, vamos extirpar o demônio da Terra. Quem for por Deus que me siga.’ Ao deparar com Dália, grávida de um dos rapazes, Edivânia perdeu as estribeiras de vez. ‘Vamos tirar a besta do Apocalipse que mora nesse corpo’, gritou, desferindo uma pedrada na testa da outra. Em seguida, Edivânia sacou de uma faca e fez picadinho do tal colchão. Suas caras e bocas foram um capítulo à parte – dignas de O Exorcista”.
Mais uma vez, as novelas da Globo apresentam um estereótipo de acordo com a concepção deles do que seja um evangélico. De minha parte, nunca vi um crente, por mais fanático que fosse, agir como a tal da Edivânia – a menos que fosse completamente louco. E esse parece ser o ponto. Querem associar religião (ou o que eles entendem por religião) com loucura. Prova disso? Veja afirma que, ao ser escalada para o papel, Susana Ribeiro recebeu uma orientação do diretor Wolf Maya: deveria parecer louca.
Se os autores e produtores de novelas pesquisassem um pouco mais, perceberiam que há seres pensantes entre os evangélicos; pessoas cujo comportamento e crenças nada têm que ver com as loucuras dos personagens que eles criam para entreter milhões de expectadores que parecem não ter nada mais útil para fazer do que desperdiçar horas em frente à tela.
“Vamos tirar a besta do Apocalipse que mora nesse corpo.” Que é isso?! Se a pessoa lê um pouquinho que seja da Bíblia, já vai perceber que essa frase é fruto de total desconhecimento do universo escriturístico e evangélico. Seria bom o Aguinaldo fazer um cursinho bíblico, assim como os atores costumam se enfronhar nos costumes e hábitos dos personagens que vão interpretar.
Ainda segundo Veja, “depois da exibição, o serviço de atendimento ao espectador da Globo registrou várias reclamações de fiéis [ué, tão vendo novela?]. Mas isso não impediu a novela de pôr mais lenha na fogueira no capítulo seguinte. Heraldo e Bernardinho foram salvos do linchamento pela intervenção de Juvenal Antena (Antonio Fagundes), de revólver em punho. Depois de escapar da turba de Edivânia, Dália deu à luz no meio do mato. ‘Nossa Senhora, salve esta criança’, rogou, como uma boa católica. E tanto o bebê quanto ela se safaram.”
Que eu saiba, um “bom católico” não iria defender esse triângulo adúltero. A Globo extrapolou em sua defesa velada de uma denominação religiosa e em seu ataque aos que têm fé diferente, incitando os telespectadores a odiar os evangélicos e apoiar comportamentos considerados (ainda) imorais.[MB]